Por Paula GomesA Band já produziu grandes novelas que entraram para a história da TV brasileira. Talvez o maior exemplo seja "Os imigrantes", produzida em 1981 e com emocionantes 333 capítulos. Durante todos esses anos a emissora produziu mais de 45 obras dramatúrgicas, entre novelas, minisséries, sitcons e similares. Muitas delas fizeram sucesso, outras nem tanto, mas a emissora era conhecida por produzir bons produtos nessa linha.
Algo de errado aconteceu com o passar dos anos e a emissora foi deixando esse produto tão importante em segundo plano e luta hoje para reconquistar telespectadores.
A volta (mais recente) à produção de novelas aconteceu em 2005, com o sucesso teen "Floribella", produzida em parceria com produtoras argentinas. De lá para cá, foram produzidas a segunda temporada de "Floribella", "Paixões Proibidas", "Dance dance dance" e a última "Água na boca". Percebe-se que a atual direção artística mobilizou a emissora e investiu no setor. Fez ajustes em horários, buscou espaço para as produções, contratou profissionais competentes, conseguiu patrocínio e estava reconquistando o brasileiro. Mas fomos surpreendidos com a notícia de que a emissora deixaria mais uma vez de produzir novelas, justamente quando a emissora já estava criando o hábito num horário em que competia sozinha com esse tipo de produto e quando esforços estavam sendo feitos para iniciar a produção de uma novela colombiana inspirada no sucesso "Pasion de gavillanes".
Com essa medida aconteceu o que de pior poderia acontecer: demissões. Mais de 130 profissionais que estavam envolvidos pelo departamento chefiado pelo diretor Del Rangel não tiveram seus contratos renovados.
A notícia chocou a todos e certamente o mercado publicitário, que numa próxima tentativa de retomada da emissora certamente vai se lembrar de mais este lamentável episódio.
Posso expor, pelo menos, 10 motivos para que uma emissora de TV produza obras dramatúrgicas:
1º Geração de empregos: a Band praticamente era a única emissora a produzir novelas em São Paulo. O mercado no Rio de Janeiro está lotado e São Paulo, via Band, era alternativa para muitos profissionais;
2º Diversificação da grade de programação: durante muitos anos a emissora ficou conhecida como "Canal do esporte". Com o tempo o preço das transmissões esportivas ficou inviável e tiveram que partir para o plano B. Acabar com o "segmentalismo" e ampliar o conteúdo da programação. Em 2008 foram criados muitos formatos novos, principalmente no horário nobre, logo a novela ajudava a mostrar para o público que a Band tinha opções nessa linha também;
3º Fideliza público: o brasileiro adora novelas e se cria um hábito. "Todo dia tenho que chegar cedo em casa, ligar a TV e ver o capítulo da minha novela". É o que pensam muitos brasileiros;
4º Atrai público diversificado: principalmente das classes C e D que são os grandes consumidores de novelas e assistem poucos programas nos demais horários;
5º Aumenta a concorrência: toda grande emissora, principalmente a que já produziu grande obras, precisa ter novela no seu line-up. As comparações entre as concorrentes por parte do público são inevitáveis;
6º Existe vida inteligente fora da Globo: foi-se o tempo que só a Globo produzia novelas. Olha a Record aí...
7º Traz faturamento: novela é brinquedo caro, mas com o tempo, se bem vendida pode gerar muito lucro;
8º Traz prestígio perante o mercado publicitário e a crítica: "Dance dance dance" foi indicada ao Emmy. Não é para qualquer um. Uma vitória para a emissora;
9º Intercâmbio entre países: "Paixões proibidas" foi exibida em Portugal e Timor Leste. "Dance dance dance" será exibida na Argentina. "Floribella" veio de lá. A substituta de "Água na boca" seria inspirada numa trama estrangeira;
10º Abre espaço para novas produções: recentemente o programa "CQC - Custe o que custar" exibiu uma esquete produzidas em parceria com a equipe de "Água na boca". O que mostrava que o setor estava em sintonia com as demais produções da casa. Com o tempo, a possibilidade de expansão, como produção de seriados, sitcons e quem sabe até obras para o cinema seriam cada vez mais reais;
Bem, desafio alguém a dizer pelo menos 10 motivos para a Band deixar de vez de pensar em dramaturgia. A emissora estava no caminho certo. Profissionais estavam sendo revelados, falava-se em banco de elenco, o público começava a ver na Band uma opção na faixa das 20h15.
Pena que empacamos outra vez. Mas nem tudo está perdido. Uma macrossérie foi encomendada para ser produzida no início de 2009. Vamos aguardar.
Até lá, quem quiser acompanhar dramaturgia na Band terá que se contentar com a reprise de "Tocaia grande", da falecida Rede Manchete. Péssimo na minha modesta opinião, pois quem vive de passado é museu e isso só assina o atestado de incompetência daqueles que preferem uma obra antiga a colocar a mão na massa e fazer história.
Certamente essa reprise não é o que a direção artística planejou para a emissora. Saber de onde veio esta "brilhante" idéia não muda o rumo das coisas, mas o que se espera é que esses coloquem a mão na consciência e percebam o tamanho do erro que cometeram e se lembrem que audiência fácil, vai tão fácil quanto veio. Foi assim com "Mandacarú" e será assim com "Tocaia".
Meus sentimentos aos que perderam seus empregos e minha profunda admiração pelo brilhante trabalho que fizeram!
Até semana que vem.
Serviço:
"Água na boca" vai ao ar de segunda a sexta às 20h15 na Band.
"Dance dance dance" estréia em janeiro no canal por assinatura Boomerang.
"Tocaia grande" tem previsão de estréia na Band dia 15 de dezembro às 21h50 (as quartas será exibida das 21h20 às 21h40, devido à transmissão do futebol).
Atenção: Esta coluna é pertencente ao "Blog da Band". Todos os direitos são reservados ao blog e à autora.